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Substância branca está relacionada à esquizofrenia

Por: Scientific American Brasil

22 de maio de 2007

Scientific American Brasil - www2.uol.com.br/sciam

Data original: 18/05/2007

Substância branca está relacionada à esquizofrenia
Novo estudo do efeito de dois genes sobre a esquizofrenia pode contribuir para diagnósticos mais rápidos e o desenvolvimento de novos tratamentos
por Nikhil Swaminathan
Crescimento lento: os oligodendrócitos em camundongos com sinal do fator de crescimento neuregulina 1 (à direita) comprometido são menores e com menos ramificações que as células normais
Os cientistas suspeitavam há mais de duas décadas que a esquizofrenia está ligada a defeitos na substância branca do cérebro, onde ocorre a transmissão de informações. No entanto, eles não sabiam se as mudanças nessa região, detectadas por exames de imageamento cerebral ou autópsias, eram a causa ou os sintomas da doença.

Um novo estudo não apenas esclarece essa associação, mas também a relaciona a genes previamente ligados à doença e alterações químicas que se acreditava ocorrer no cérebro esquizofrênico. “A pesquisa prova que alterações na mielina (camada de lipídios que reveste e isola as fibras nervosas e é a principal componente da substância branca) podem causar danos aos neurônios e ao sistema nervoso central em geral, e que são relacionados à essa doença neuropsiquiátrica” diz o principal autor do estudo, Gabriel Corfas, do Hospital Infantil da Harvard Medical School, em Boston.

Os resultados, publicados no Proceedings of the National Academy of Sciences USA, poderiam ajudar os médicos a detectar a esquizofrenia precocemente e promover novos tratamentos. A doença, que afeta 2.5 milhões de pessoas nos Estados Unidos, é caracterizada por uma percepção distorcida da realidade, como alucinações e vozes imaginárias, comportamento e fala irregulares, e pela ausência de emoção. Os sintomas geralmente não se manifestam até o final da adolescência ou início da vida adulta.

A equipe de Corfas usou camundongos nos quais bloquearam o receptor erbB4 nos oligodendrócitos, que fabricam o revestimento de mielina no centro de comunicações do neurônio. Os receptores erbB4 recebem um fator de crescimento chamado neuregulina 1, necessário para o desenvolvimento cerebral adequado. Os genes expressos em oligodendrócitos – como aquele que codifica para a neuregulina 1 – já tinham sido relacionados à esquizofrenia, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo.

A equipe ressalta que, quando os receptores erbB4 dos camundongos são bloqueados, eles desenvolvem 40% mais oligodendrócitos que os animais comuns. “É algo que não esperávamos”, diz Corfas, “Antes se pensava que a função da neuregulina 1 era um fator de sobrevivência para os oligodendrócitos”. Em outras palavras, os pesquisadores esperavam que o defeito levasse a uma menor produção de células, e não maior.

Além disso, os oligodendrócitos são caracterizados por vários pontos de ramificação; os cientistas descobriram que aqueles produzidos pelos camundongos alterados desenvolveram menos pontos de subdivisão e ramificações, resultando em uma camada mais fina de mielina para revestir os neurônios. Os pesquisadores mediram uma velocidade 18% menor na transmissão de informação nos cérebros com camadas mais finas de mielina, comparados aos normais. “O ritmo de transmissão entre centros diferentes do cérebro poderia ser interrompido”, explica Corfas, comparando o problema ao atraso da informação em uma ligação telefônica, por exemplo. Os camundongos com receptores erbB4 danificados mostraram vários comportamentos que podem corresponder aos sintomas anti-sociais em humanos: os animais não se mostraram muito animados para explorar um campo aberto, nem para investigar um intruso desconhecido na gaiola.

Os camundongos mutantes também se revelaram mais sensíveis a anfetaminas – uma característica da esquizofrenia em humanos –, tornando-se muito mais hiperativos que os animais de controle após várias doses. Isso sugere que houve mudanças no sistema do neurotransmissor dopamina com os mecanismos de prazer e recompensa do cérebro. De fato, ao conduzirem a pesquisa nesse sentido, os cientistas descobriram que certos tipos de receptores de dopamina tinham aumentado em quantidade (a maioria dos antipsicóticos usados para tratar esquizofrenia anula a dopamina).

Corfas diz que as fazer exames de imageamento em crianças com dificuldades cognitivas ou sociais detectáveis para checar se possuem maior quantidade de substância branca, ou mudanças em sua organização, podem levar a um diagnóstico precoce da esquizofrenia. Além disso, ele afirma que os resultados indicam que os tratamentos usados para outros tipos de doenças relacionadas à substância branca, como a esclerose múltipla, podem ser úteis para tratar a esquizofrenia e outras doenças neuropsiquiátricas.


Notícia original:

http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/substancia_branca_esta_relacionada_a_esquizofrenia.html

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